segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A vida é...

A vida ...

-Eu juro...
-Não! Eu prometo...
-Quer dizer, talvez eu consiga...
-Sou humano, é provável que eu desista.

-×-

-Você é a mulher da minha vida.
-Ué? Mas para onde ela foi?

-×-

Daí, eu disse:
-Não estou nem aí para você!
Bati o telefone e comecei a destruir todos os objetos da casa.

-×-

- Me perdoa! Nunca mais vou fazer isto de novo.
 -Não!
-Só mais esta vez, peloamordedeus!
-Tá bom, mas esta é a última vez.
Não foi a última vez. Nem a penúltima.


A vida é assim. Mas mundo roda e segue em frente.

-×-

Beijos que nunca te dei

Lembra daquele beijo que nunca te dei?
Lembra do dia que não saímos abraçados
E não passeamos no parque
E não te comprei uma rosa
E não te paguei um sorvete?
Depois, não fomos ao cinema
e não te cobri de beijos,
nem minha mão se aproveitou da escuridão
e não explorou tuas coxas.
Lembra quando meus olhos
não brilharam como diamantes ?
quando pela primeira vez
 não te declarei meu amor?
E que depois não fomos a um motel
e não nos amamos loucamente,
alucinadamente, desmioladamente.
E que não perdemos a noção do tempo,
desabraçados que estávamos.
Não te lembras?
Pois se nada disso aconteceu
E eu nunca vi os teus olhos,
É como se tivesse vivido
Tudo que não fiz,
Tudo que não vivi,
E os beijos que não te dei
ainda adocicam meus lábios,
E o amor que nunca jurei ao teu ouvido,
Ainda flutua no ar dos meus sonhos.
E se apurares bem os ouvidos
Ouvirás o rumor das minhas palavras
e escutarás bem baixinho:
Te amo pra sempre

Benno Assmann

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Quando escritor sou poeta
quando poeta sou estrela
quando estrela sou luz

imaterial
sutil
veloz
multicor

da manhã quando nasce
a mágica
do encontro das águas
o turbilhão
do degelo da calota polar
sou o mar
onde mergulho e me perco
o rumor da multidão
o orgulho
dos sussuros da noite
os segredos


-x-
Acordou naquele dia sem saber o que o destino lhe reservava.
Seria aquele mais um dia, ou seria o dia cujo a lembrança se irradia e ilumina as noites?
Mal sabia ele que estaria num simples sorriso, no curvar leve dos ombros, no desbotado antigo das botas, no leve levantar de poeira do sopro do vento.
É que tudo se resume num breve instante, o vale que separa montanhas é uma fímbria, a noite e o dia se separam por uma nesga de penumbra. Apenas um grama separa a gordura da magreza. E basta uma informação para se defazerem as sombras da ignorância e se instalar, por fim, a sabedoria.

(Foi em apenas um dia que eu me fiz!)

Há dias que se separam dos outros dias tão comuns, porque neles se percebe a poesia em cada coisa que nos cercam. Numa cerca florida ou num muro encoberto pelo musgo do tempo, no espelho plácido de uma lagoa que dorme entre duas montanhas, nos lábios que se movem sem emitir nenhum som, nos olhos que piscam acelerados e se fixam num lugar que está fora do campo de visão.
Se chove, dá vontade de entrar na chuva, se faz Sol dá vontade de se espalhar em seus raios. Se o dia é morno é o morno que basta, se frio é o frio que refresca o calor do corpo, se é quente, o calor é uma boa desculpa para soltar o corpo e se sentir livre.
Abriu as narinas largamente e aspirou o dia com todos seu gloriosos cheiros. Lá do alto de seu semblante, vislumbrou o que se passava à frente. Começou a caminhar a passos largos rumo ao futuro. Logo após dobrar a esquina o resto de sua vida lhe esperava.
Quase de imediato, cegou. Seria o Sol ou uma explosão atômica? Mil Hiroshimas e quinhentas Nagasakis aqueceram seu coração. Vulcões, tufões,  carnavais, vendavais. O mundo passou a sua frente e ele não viu passar.
Mas a cegueira passou e conseguiu vislumbram os primeiros raios de sua sombra. E depois foi o resto do dia, o resto do ano, o resto do século, o resto da vida.
Pelo menos foi assim que reconstruiu em sua memória aquele dia em que se apaixonou perdidamente. É essa mania que tem os amantes de recriar os acontecimentos e lhes dar nova cor e nova magia.
Parece até que é mentira, mas é assim que se vive de fato! Quando a gente vê o que é como é, a gente está morto.
Se formos perfeitamente racionais e sensatos, seremos como robôs e uma vida assim não vale a pena ser vivida. Se for para sermos como robôs seria melhor sermos substituídos por robôs, pois robôs não erram. Mas se fizermos as coisas com sentimento, faremos sempre diferente e teremos mil motivos para errar e ainda assim sermos perdoados.
Por isso, eu prefiro os robôs mais malucos, mas os seres humanos devem ter um mínimo de sensatez.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rodrigo e Roberto eram amigos inseparáveis desde a mais tenra idade. Todos que os conheciam juravam que não havia no mundo amizade mais verdadeira.
Inseparáveis, faziam tudo juntos. Iam ao cinema, saiam com suas namoradas, um visitava a casa do outro constantemente e suas famílias eram bem amigas também.
Mas nem tudo é como parece. E muito de hipocrisia havia naquela amizade. Pois Rodrigo sempre fora mais bem sucedido que Roberto. Suas notas na escola eram melhores, sua familia mais rica, ele vencia todas as competições, enquanto a Roberto o destino destinava sempre os sobejos da glória do amigo. Não que ele fosse tão mal, porém o brilho intenso de Rodrigo ofuscava suas pequenas conquistas.
E como a água, que de tanto pingar, acaba abrindo um grande rombo em um pedra, o repetitivo segundo lugar de Roberto acabou por abrir um grande rombo em seu coração que passou inteiramente despercebido por todos. 
A partir de então, toda vez que era bem sucedido Rodrigo em algo, no íntimo de Roberto consumia um ódio mortal, da mesma forma que rejubilava-se intensamente ao menor insucesso do amigo.
Rodrigo, de maneira bem diferente, julgava verdadeira a amizade que Roberto lhe dedicava e nem por sombra desconfiava da inveja que o consumia. Roberto, por pura hipocrisia, fingia exatamente o contrário do que na verdade sentia e todos imaginavam que lhe contentava o segundo posto em tudo.
Por pensar ser verdadeira a amizade que tinham,  Rodrigo só falava bem de Roberto em sua ausência, mas em sua presença, buscando o crescimento do amigo, sempre lhe apontava os defeitos.
Roberto sabia que o comportamento de Rodrigo era muito superior ao seu, mas ao invés de lhe admirar a nobreza e grandeza de espírito, sentia ainda mais inveja.
Não suportando mais o intenso sofrimento que lhe atazanava a alma e ódio mortal que queimava em suas entranhas, resolveu armar uma cilada para Rodrigo.
Roberto sabia muito  bem que Rodrigo gozava da mais absoluta confiança de seu chefe e que Rodrigo, por sua vez, confiava inteiramente tanto em seu chefe como em Roberto. Imaginou então
 que poderia se valer dessa excessiva confiança dos dois e a que Rodrigo tinha por si, para fazer com que Rodrigo caísse em desgraça junto ao chefe e que este, decepcionado, o mandasse para a rua.
Seria uma ótima vingança. 
Roberto sabia que quase diariamente Rodrigo recebia a missão de depositar o faturamento da empresa do dia anterior no banco. Ele recebia a quantia do chefe em um envelope.
Uma vez por mês, no dia do seu pagamento, recebia dois envelopes ao invés de apenas um, já que um deles era o seu pagamento mensal.
Neste dia, Rodrigo ia até o banco e fazia os dois depósitos um sem sua conta e outro na conta da empresa. Bastaria aproveitar uma distração para passar uma parte da quantia do envelope da empresa
para o envelope do pagamento. Quando o chefe desse pela falta, perderia a confiança em Rodrigo.

Porém, as coisas nem sempre se passam como foram imaginadas e foi assim que sucedeu também neste infeliz caso.

Roberto, visitando Rodrigo em seu escritório, como era de costume, no dia do pagamento, aproveitou-se de temporária ausência do amigo para passar parte da quantia do envelope da empresa para o envelope do pagamento de Rodrigo.
Rodrigo não percebeu nada de diferente e disse que tinha que ir ao Banco realizar os depósitos. Já no Banco, Rodrigo foi conferir as quantias e percebeu a diferença. Sem entender porque havia menos
do que devia haver num envelope e no outro havia a mais a mesma quantia, resolveu voltar ao escritório para tirar a dúvida com o chefe.
No retorno, num momento em que deveria ainda estar no Banco, dois homens armados o abordaram e quiseram levar sua valise. Infelizmente, Rodrigo reagiu, foi baleado e já não se encontra a partir de então entre os vivos. É um desse azares que podem acontecer a qualquer um. Um pequeno desvio do caminho, um esquecimento, talvez influenciado pelo bater da asa de um borboleta, e o caos pode se instaurar em sua vida.
Basta estar no lugar errado na hora que era para estar no lugar certo.
E foi assim com Rodrigo.
Quando soube o que tinha acontecido, Roberto enlouqueceu. Afinal, queria apenas um fracasso, uma vergonha, uma decepção na vida de Rodrigo e não a sua morte. E o ódio que sentia transformou-se de novo na grande amizade no orgulho de ter um amigo valioso. Arrependeu-se, se bem que já  tarde, quando mais nada podia fazer.
Roberto tentou juntar os cacos que sobrara do mundo e foi viver uma vida solitária e de arrependimento. Hoje ele tenta por todos os meios se redimir. Se tornou uma pessoa solidária que se afasta da inveja
e do ódio e tenta ajudar a quem precisar sempre que pode, e ele sempre pode, essa é a verdade.
Uma alma de ouro se perdeu, mas uma alma perdida se salvou, ainda que a alquimia do tempo e do acaso não tenha podido transformá-la em ouro, talvez a tenha cunhado em prata.

-x-

Lauro nasceu pobre. E sofreu muito na vida. Não teve que comer o pão que o diabo amassou pois nem pão havia. A fome é dura de aguentar.
Mas ele tinha uma coisa diferente de outras pessoas que passaram pelo que ele passou. Ele não queria aquilo e fez de tudo para mudar.
Começou fazendo pequenos serviços. Entregar compras, lavar carros, qualquer coisa. E o dinheiro ele guardava. Entrou para a escola, aprendeu. E como se interessava, era inteligente, logo se destacou.
Foi dando a volta por cima, melhorando de emprego. Não foi assim tão de repente. Foi aos poucos. De pouquinho em pouquinho se faz um montão. Mas tem que ir sempre na mesma direção e isso ele sabia fazer: ser persistente.
Ele fazia um pouco melhor, recebia mais e comia um pouco melhor e podia se concentrar mais e fazia seu trabalho um pouco melhor e ficava nesse ciclo indefinidamente.
Quando deu por si, era pessoa bem situada na vida. Lembrou do que sofreu, mas parecia já bem distante. Mas ainda que tenha subido tanto, percebeu que quando mais subia no aspecto material, tanto mais descia ladeira abaixo na esfera dos relacionamentos pessoais.
Pois conhecera ao longo de sua escalada pessoas que o ajudaram e que deram palavra de estímulo. Mas agora se cercava cada vez mais de hipocrisia. Num nível mais alto da escala social, as pessoas eram mais falsas. E aquele ouro todo que tanto o seduzira agora parecia ser o ouro de tolo.
Por isso, resolveu subir mais ainda. Talvez lá bem acima de tudo, como a paisagem que se vê do alto da montanha na qual a pequenes das pequenas feiúras somem e só se vê o que é belo, as coisa pequenas dos seres humanos não fossem vistas.
E subiu, e subiu, e continuou a subir.
Chegou á presidência da empresa. O máximo a que poderia chegar.

Ouro de tolo!

O que viu no topo foi bem pior. A  corrupção rolando solta. Lá em cima as pessoas são bem baixas. Quiseram encher-lhe a mão de propinas, mas ele não concordou. Achava que ainda havia alguma coisa de honrado a preservar em si.
E por isso caiu, caiu e caiu. A queda foi grande, imensa, gigantesca. Se espatifou e esbarrachou-se em pleno solo da miséria.
Já não sabia como a miséria era pior, e, diga-se, muito pior, do que a torre de Babel a que tinha chegado. Digo, Torre de Papel.
Achou que estaria, portanto, bem melhor no meio da escada. Era só fingir que não via, virar um eremita, não confiar em ninguém... e deixar de ser humano.
Conseguiu reconquistar a sua posição, nem tão em cima, nem tão embaixo. A posição mais confortável que há. Não há fome demais nem bajuladores demais.
Nisso, conheceu o moço jovem e se viu nele. Pois não é que o desavisado rapaz seguia-lhe os passos?
A história vive a se repetir e nada é tão novo quanto se pensa. Tentou aconselhar, fazê-lo seu sequaz. Mas o rapaz estava tão ocupado em seguir em frente que nem lhe deu atenção.

Acho que é melhor deixar as pessoas cometerem seu próprios erros.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Não há pior sensação do que aquela que sinto quando, preocupado com a minha saúde, vou a um médico e ele, ao invés de cumprir com seu dever, só repara no meu bolso. Acabo deixando meu dinheiro por lá, e olha que não é pouco, e volto para casa do mesmo jeito.

-x-

Ah, se soubesses que o que eu sinto não é o que pensas que eu sinto e se soubesses ainda que por um momento que isto ainda é mais que tudo o que pudesses pensar e que o mundo não cabe na imensidão quase vazia do meu coração pois nele há um espaço exclusivo a tua espera para que nele possas adentrar
e se soubesses que a Lua, que o Sol, que o mar e o vento são meus amigos e que a prata, que o ouro, que o diamante e todas as esmeraldas que ainda não foram extirpadas do solo nada serão quando repousarem sobre a porcelana de tua pele, que os lagos secaram e se transformaram em caudalosos rios na amplidão das minha veias, no estufar do meu peito, no pulsar veloz e aflito dos mais recônditos recantos das minha memórias onde os anjos e os demônios flutuam todos em minha e em tua direção
se soubesses que a illha que habitas é cercadas por líquidos braços meus transformados em vastos e encapelados mares, que no isolamento exilado e ensimesmado do pensar me perco na profundidade abismal dos teus olhos
 Ah, se soubesses o que eu sei, seu eu sobesse o que sabes, se  eu sonhasse o que sonhas, se sonhasses o que sonho, se beijasses o que eu beijo, se eu beijasse o que beijas, se fossemos enfim dois em um, um em dois e finalmente fossesmos três...

domingo, 1 de setembro de 2013

Em grande espectativa, aguardou aquele encontro .
Cortou os cabelos , fez a barba, passou horas no banho, derramou  sobre si todo frasco  de perfume.
Chegou uma hora antes da que fora marcada e esperou até uma hora depois.
Finalmente desistiu.
Foi até o bar decidido a beber todas, mas acabou conhecendo o amor da sua vida.

-x-

Não o desespero
mas o sorriso
ante o mistério da vida

não o desânimo
mas a esperança
no recomeço