quinta-feira, 18 de julho de 2013

Em inícios de primavera, qual o interior do frasco vazio de um perfume requintado, o ar fica repleto de odores.
Ávidas de humus, como ninfas mágicas, prenhes as plantas explodem em flores.
As árvores frondam-se em mil verdes ramagens.
As copas acenam dizendo sim ao vento.
Extensos galhos, farfalhando, mutuamente em verdes se abraçam.
A natureza toda se transforma, a luz se espalha sobre as escuridão de grotas esquecidas, iluminando o que andava escondido

O que estava morto, súbito, adquire vida própria. Por onde quer que se passeie com os olhos, só se encontra a vida.
Andava eu pelo campo, admirando a paisagem, quando lembrei de coisas esquecidas. A primavera interior, pela qual as vezes passo, pode acontecer a qualquer momento. 

A primavera, tanto a externa que tem data certa, como a interna que pode acontecer até em pleno inverno,  tem este poder sobre mim. O da lembrança.
A lembrança, construída aos poucos, dia a dia. No gotejar lento das horas, nos escoar espiral e sem volta do tempo.
O lembrar, quando possui o filtro adequado, aquele que nos faz ver as dores como lições e as boas lembranças como coisas que podem ser revividas indefinidamente, me faz sentir um poderoso Mago.


Um Mago que tem o poder de despertar um sorriso. Ai, quem me dera ter o majestoso dom.
Um mago que guarda uma ânfora secreta no fundo da qual repousa o a gora mágica do voltar do tempo
Foi assim que lembrei de certos poemas esquecidos... afinal, todo mundo faz coisas que depois esquece.

-x-

na palma
da tua mão
uma quimera
repousa inerme
qual doçura matutina
e a sola do teu pé
pisa encantada
o solo eterno
em soberana purpurina
e os olhos
arredios miram
prefixos
do tal destino
que promete
o horizonte
além da torre
intransponível
há uma ponte
que dá passagem
ao inevitável
e o impossível

-x-

não acredito no Sol
mas em sua luz
e a beleza da flor
não é a flor
mas a interseção
de seu contorno
com a linha de visada
dos meus olhos
a música
não é o seu som
mas seu silêncio
pois a cada nota que soa
reverenciam mudas
infindas tantas outras
de crenças e descrenças assim me faço
do ontem ao amanhã no hoje eu passo
em ti e em mim sou cego crente
e dá-me forças de ir em frente
no uno a fé que em mim dissolve
o que em ti é incréu ao fim resolve
da união do que é tão diferente
surge homogênea sob a dura lente
a mais fadada perfeição eterna
a trançar maluco das nossas pernas

-x-

Se tuas mãos são minha
casa

e teu olhar é o meu
destino

se teu corpo é meu
alento

e teu ar de minha vela é
vento

para quê ainda existo à
parte

se em teu ser sou
simples arte

mera consequência dos
teus atos

versos meus nada revelam

se meus gestos nem me
são inatos

e meus lábios
silenciosos selam a jura eterna

e condescendente que
sopro aliviado entre os dentes

 inflorescências
olhos meus são tua luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário