sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Num mercado do oriente

Bernardo enfim realizava seus sonhos.

Formara-se com distinção e já tinha um bom emprego.

Encontrou uma mulher a quem amar e viver a dois. Parecia ser para sempre.

Casamento de cinema. Tinha condições de bancar. Patrícia, a doce Pat, era decidida e dedicada.

A Lua de Mel, feita de mel, vinho e sonhos, adocicaria ainda mais a existência.

Todo aquele esforço não tinha sido em vão.

O destinho escolhido, o oriente médio, as Pirâmides, a esfinge, Petra, Istambul a antiga Bizâncio de Roma, a antiga Constantinopla dos Otomanos. O idílio dos mercados persas.

Certa vez, andando pelas ruas do Cairo, um senhor, encantando pelas formas e o rosto angelical de Pat ofereceu dez camelos por ela. Bernardo, é claro, não aceitou. O sujeito então aumentou a oferta para vinte camelos e duas de suas melhores mulheres. Bernardo pediu para não mais insistir e disse que em sua terra a mulher era considerada gente. O senhor, desconsolado, foi embora, voltando-se ainda uma vez ou outra com o olhar cheio de desejo em Pat.

Num mercado típico do oriente que parecia saído das mil e uma noites, mil tecidos coloridos, mil tapetes (quem sabe alguns até voadores), mil delicias.

Pat olhava uns artesanatos, ele uns tapetes decorados com arabescos intrincados.

Nunca tirava os olhos de Pat, mas distraiu-se por um momento e, quando olhou para onde ela estava, não mais a viu. Perguntou, entre gestos e um inglês que não entediam, se alguém a vira.

Ninguém sabia de nada. Rodou o mercado de cima a baixo, e nada de Pat.

A policia foi taxativa. Ela havia sido sequestrada. Traficantes de mulheres operavam na área. As turistas, especialmente louras e bonitas como na descrição da Pat, eram as preferidas.

O terrível destino que as aguardava era se tornarem escravas dos beduínos, prostituta num porto qualquer ou mesmo servir um sheik imperador de um recanto qualquer do deserto. O mais provável era a manterem constatemente drogada e vender a posse momentânea de seu corpo por um bom preço para o maior número possível de homens. Ela acabaria se acostumando a nova vida e, aí, viciada, teria que vender seu corpo para manter o vicio a que lhe teriam forçado. Poucos anos de vida lhe restariam. Com o corpo avassalado pela droga, pelas doenças venéreas e pelas más condições de higiene, ela não duraria mais do que dois ou três anos, no máximo cinco se fosse forte para suportar. Não haveria como recorrer a ninguém, pois estaria bem longe. Não havia esperança, podiam garantir.

Ele procurou em todos os lugares até ficar sem dinheiro e sem esperança e nunca mais a encontrou. Em toda parte ele via o rosto do homem que lhe oferecera dez camelos. Uma sombra que o acompanhou pelo resto da vida.

O dinheiro acabou, ninguém prestou muita ajuda. O máximo que diziam as autoridades eram palavras de consolo.

Foi assim que terminou sua ventura. Para sempre.

3 comentários:

  1. Nossa, que história triste! Acho que pior que a morte eh ver um ente querido desaparecer, a incerteza dói muito mais.

    Apesar de triste, adorei. Alguns temas, apesar de terríveis, precisam ser contados, divulgados.

    Parabéns!

    Beijosssssss

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  2. India
    o pior mesmo é que a estória em sua essência é baseada em um fato.
    Beijo
    Benno

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  3. Benne, temos uma atração especial por finais felizes...

    E voce começa uma linda histótia que termina em tragédia...

    Ah... confesso que entristece...

    Mas a vida nem sempre nos reserva finais felizes...rs

    Não é?


    Beijos mil!

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